Quem se interessa por terapia de vidas passadas e já andou pesquisando sobre o assunto, deve ter percebido que, apesar da grande quantidade de informações disponíveis, ainda é difícil encontrar detalhes sobre como são de fato as sessões, e qual a chance de funcionar com você.
A terapia de vidas passadas fundamenta-se na teoria da reencarnação. Ou seja, parte-se do pressuposto de que somos espíritos em evolução através de sucessivas vidas em corpos físicos (sucessivas encarnações). A cada encarnação, apaga-se da memória as vivências anteriores para que tenhamos uma nova oportunidade de crescimento e aprendizado, sem que os fatos ocorridos em outras vidas nos atrapalhem — algo que nem sempre pode ser totalmente evitado. Justamente nestes casos, determinadas situações vividas em outras encarnações seriam suficientemente traumáticas para repercutir de alguma forma na vida atual. Aí que entra a terapia de vidas passadas, que basicamente procura trazer à tona fatos passados para ao menos amenizar seus efeitos no presente. Ou seja, a mera lembrança de situações passadas que possam explicar determinados problemas, limitações ou dificuldades enfrentados no presente, já seria capaz de produzir efeitos benéficos na pessoa.
Muitos chegam até este assunto através de livros como "Muitas Vidas Muitos Mestres", de Brian Weiss. Médico formado em Yale, Weiss não foi o primeiro a pesquisar ou escrever sobre o assunto, mas conseguiu transformar seu livro num best seller mundial, popularizando o tema. Aqui no Brasil também temos autores e pesquisadores relevantes que atuam no ramo. Mauro Kwitko, médico formado pela UFRGS, há décadas dedica-se a este tipo de trabalho, com várias publicações sobre sua técnica denominada Psicoterapia Reencarnacionista. De acordo com sua abordagem, "a regressão deve ser realizada pelo Mentor Espiritual do paciente, e não pelo terapeuta"[1]. Kwitko também enfatiza que é o Mentor Espiritual quem deve possibilitar ao paciente o "acesso ao que pode ver, ao que merece ver, ao que aguenta ver"[1].
Osvaldo Shimoda, formado em psicologia na Universidade São Marcos, utiliza uma abordagem muito semelhante denominada Terapia do Mentor Espiritual. Shimoda afirma "com absoluta confiança, que com o auxílio do Mentor Espiritual de cada paciente, a segurança, a eficácia e a brevidade dessa terapia aumentaram consideravelmente"
[2]. Afinal, "se o paciente não estiver preparado psicológica e espiritualmente, o descortinamento do seu véu poderá prejudicá-lo, ao invés de ajudá-lo, podendo até agravar o seu problema"
[2].

Tive oportunidade de experimentar as duas abordagens. No total foram 3 sessões de Psicoterapia Reencarnacionista com uma terapeuta filiada à
ABPR, e 5 sessões de Terapia do Mentor Espiritual com seu próprio criador. Nos dois casos chamou a atenção o fato de nenhum dos terapeutas considerar-se médium. Afinal, para uma terapia com tamanha dependência da dimensão espiritual, e num mundo que (ao que tudo indica) é tão propenso a variadas influências do lado de lá, como saber o que exatamente está ocorrendo? Como saber se o verdadeiro condutor da sessão (o Mentor Espiritual) está de fato ali presente e no comando? E se nada de mais ocorrer na sessão, qual seria o motivo por trás disto? Enfim, como ter um mínimo de controle sobre a situação sem ter nenhum tipo de mediunidade desenvolvida? É claro que isso muda de figura quando o próprio paciente possui um certo grau de mediunidade — o que não era meu caso. Portanto foi assim, sob a espessa névoa dos limitados sentidos físicos, porém não sem boa vontade, que mergulhei nas sessões de regressão.
Nas duas abordagens há uma conversa inicial para que o paciente explique o motivo de estar lá. Isso é feito tanto para avaliar se o tratamento é adequado para resolver o problema, quanto para definir a melhor forma de direcionar as perguntas caso a regressão seja bem sucedida. Depois disso o terapeuta coloca o paciente numa posição confortável (maca, divã ou sofá reclinável), põe uma música suave de fundo, e procura induzir com suas palavras o paciente a um estado de relaxamento físico e mental. Invoca-se também a presença do mentor espiritual, incluindo palavras de agradecimento e oração. Não, nenhuma técnica surpreendente ou extraordinária é utilizada. Nenhum recurso milagroso. Apenas um simples relaxamento nos mesmos moldes de tantos outros facilmente encontrados por aí. De um modo geral tudo segue um roteiro predeterminado, com direito a pequenas variações no caso da Terapia do Mentor Espiritual, por ter sido aplicada por um psicólogo mais experiente (mais de 40 mil sessões) e conhecedor de diferentes técnicas de hipnose.
Ao final do relaxamento, o terapeuta utiliza uma técnica de visualização criativa, orientando o paciente a imaginar de olhos fechados uma situação do tipo cruzar uma ponte, subir ou descer uma escada e abrir um portão. Finalmente, se tudo correr bem, se o paciente estiver em profundo estado de relaxamento, totalmente entregue ao trabalho, se a frequência de suas ondas cerebrais tiver baixado pelo menos até alpha, se o mentor estiver ali presente, e se os ventos estiverem soprando na direção certa, ao cruzar a ponte ou abrir o portão virá alguma experiência reveladora — seja através de imagens, sons ou cheiros, rápidos ou prolongados. Com o paciente nesse estado, o terapeuta procurará interferir o mínimo possível, sempre direcionando a experiência para ajudar a encontrar a solução procurada.
No meu caso, nada de mais ocorreu, a despeito de todas as tentativas. Consigo relaxar, tenho facilidade com visualizações criativas e procurei me entregar ao trabalho — do contrário nem perderia tempo e dinheiro com isso. Mesmo assim não foi suficiente.

Em casos assim, quando a terapia não surte resultado, creio que a explicação mais simples esteja naquilo que já conhecemos sobre hipnose, uma vez que, sim, a regressão é uma forma de hipnose consentida e consciente. Cá entre nós, um mero relaxamento seguido de visualização criativa não será capaz de aflorar memórias de vidas passadas
na grande maioria das pessoas — do contrário muitos já teriam tido acesso a
flashes de outras encarnações. Apenas aqueles que são muito suscetíveis a estados mais profundos de hipnose ou que possuem mediunidade bem desenvolvida conseguem atingir o estado alterado de consciência necessário para isso. Se você não é médium, é bem possível que faça parte dos 90% da população que não são muito suscetíveis a hipnose (10% são pouco suscetíveis e 80% são medianamente suscetíveis — esta e outras dúvidas sobre hipnose podem ser tiradas em inglês
aqui). Se acrescentarmos aos 10% que são muito suscetíveis à hipnose um outro percentual do restante da população que tenha mediunidade bem desenvolvida teremos que, numa estimativa bastante otimista, ~15% da população pode obter algum resultado com este tipo de terapia. Ou seja, para saber as suas chances de conseguir regredir, basta fazer um teste de suscetibilidade à hipnose ou ter consciência do seu grau de mediunidade. É bom ressaltar que esta estimativa diz respeito à população em geral. Assim, para contestá-la, seria necessário por exemplo selecionar aleatoriamente 100 pessoas na população dispostas a passar pelo procedimento. Se o resultado do procedimento for positivo para no máximo 15 pessoas, lamento informar que a estimativa estará correta.
E quanto aos outros 85% da população? Existem alternativas?
Nas duas abordagens mencionadas é possível utilizar (contratar) um médium para acessar o passado do paciente — inclusive fazendo o tratamento à distância. Procedimento muito parecido pode ser feito em sessões de Apometria, que atualmente vicejam em centros espíritas. Em todos estes casos, porém, o paciente deve estar preparado para ouvir relatos de terceiros sobre suas supostas vidas passadas, tal como experiências de assédio nas pirâmides do antigo Egito, momentos de angústia numa prisão medieval, e por aí vai. Relatos que podem parecer bastante estranhos e duvidosos para o paciente. Este terá que escolher o que fazer com informações praticamente impossíveis de comprovar, pois não foi ele quem vivenciou a lembrança.
Outro caminho, normalmente mais árduo e complicado, é proposto por Wagner Alegretti[3]. Neste caso deve-se buscar lembranças de vidas passadas (retrocognições) durante saídas do corpo, popularmente conhecidas por viagens astrais, pois nestas situações isso seria em tese mais fácil de ocorrer. Difícil é conseguir sair do corpo conscientemente...
Com este depoimento não quero de modo algum desencorajar
outras pessoas que queiram experimentar tratamentos assim, até
porque os relatos nos livros dos autores mencionados são muito ricos,
profundos, e oxalá verídicos. Busco tão somente registrar aqui de forma aberta e sincera o
resultado da minha experiência, revelando como é de fato uma sessão
nesse tipo de terapia e prevenindo prováveis frustrações a outros que tenham lido este texto e queiram experimentar por si mesmos. Afinal, vidas passadas
parece que nem sempre movem moinho em sessões de regressão...
Referências:
[1] "20 Casos de Regressão" - Mauro Kwitko.
[2] "Experiências de Regressão" - Osvaldo Shimoda.
[3] "Retrocognições" - Wagner Alegretti.